Mera Existência Média

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Location: São Paulo, SP, Brazil

Thursday, May 18, 2006

Obrigado Márcio

Da banalidade de nossas vidas normais nasceu o Amor,
Sentimento-chama que nos aquece e nos consome.

Por menos inédita que seja a metáfora,
Nossa vida,
Ela é.

E é bela,
Com marca de espinha, paixão juvenil,
Caminhar saltitante, da pulsão ao vazio.

A singular formiga que picou meu dedo
Naquela noite, num gramado qualquer,
Via a lua.
E abaixo dela seus súditos,
Entoando hinos pagãos,
Derramando vinhos cristãos,
Ou servindo-se da pura água,
Mineral,
Sóbria como uma lágrima,
A refletir o passado, o presente, o dente, o futuro, o escuro, aclaridade, a cidade.

De onde vem a beleza não sei,
Às vezes isso me incomoda.
O fato é que ela está incrustada em nossas almas,
Por mais que a poeira a encubra,
Sempre haverá a chuva.

Haverá morangos, e campos de braquiarias, e bicicletas, e pés, epernas, e pêlos, e desejos, e garotos.
Haverá olhos que não ousam olhar os olhos ou se perdem profundamentena existência.
Ou se brilham como os dentes devassos e cabelos pintados e carecas raspadas.

Tijolos quebrados nas esquinas,
Ondas que lavam nossas brincadeiras,
Vagens que estralam nossos fetiches,
Incensos que perfumam nossa carne,
Postes que acolhem nossos beijos,
Lençóis que ninam nosso mergulho,
Tevês que alimentam nossos sonhos.

Sonhos que submergem como golfinhos,
Depois em ilhas de vulcão reaparecem.
Tatuagens que cicatrizam nossos ninhos,
Tsunamis que os levam e entristecem.

A mosca que pousou na sopa, outra sopa pousará.
Qual tempero ela prefere?
Qual sabor preferirá?

Só Deus, o tempo, a vida, o infinito.
Só o raio de sol que nos acorda,
Um novo dia,
Bonito.

Amanhã, quero ser alguém que ame tanto quanto ontem amei o passado.
E que espere sempre encontrar
Pessoas, ainda sem cara, sem voz e sem cor.
Lugares, tão novos, sem chão, sem sinal, sem calor.
Que saídos da mais bela vagina,
Tornem-se somente
Vocês, e vocês outros depois,
Meus amigos.

A pena vale a poesia

Amar em tempos de guerra
É beijar muros salpicados de cimento,
E arriscar saltos sobre as cercas das mansões.

Militar na brigada da vida
É o constrangimento de um nu em frente a igreja,
È crucificar-se anunciando a redenção.

É mostrar a roupa de baixo
Pra quem a vê feia,
E sentir pecador,
Por menos que creia.

Na cruzada ensandecida da paz,
Fere-se o outro,
Fere-se
Mas,

Respira-se
Sonha-se um sonho lascivo
Se não houvesse o aperto, não haveria o alívio.

O aperto aí está,
Pra quem quiser senti-lo, está,
Pra quem não quiser, cercar.
Pra quem não lutar, é ser.
Para quem viver, mudar.

O sentido, a direção.
Rodovias, contramão.

Parapeitos, berços, leitos,
Pára-lamas, terços, mamas.

Os besouros que zombem hinos aos nossos ouvidos
Criam larvas comensais
Que, aos milhares,
Devoram o lado podre de nossas entranhas
E criam flores no Jardim de Acá.

Assim, de noite,
A fragrância sedutora me inebria,
Me carrega para o além, lugares-eu,
Pro depois, em tempos de agora,
E enfim, a amídala implora

Um talvez, um estado completo,
Uma luz, uma alma de inseto.
Não qualquer,
Borboleta Sublime!
Se fulgaz, não comete um crime

Pela intensidade do hoje,
Pela fé num futuro melhor.
Pelos vôos e lábios visados.
Tão crianças, açúcar, suor.