Mera Existência Média

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Location: São Paulo, SP, Brazil

Sunday, April 15, 2007

Esquerdo

O que me contam suas espinhas?
Quantas espinhas eu conto?
Muitas mais que 300 mililitros de silicone.
Muito mais que um holofote, um espelho
De derrotas, vitórias, de desejos.

O que me conta sua voz rouca,
A sair fragmentada de tão bela boca?
Conta mais que milhões de frases feitas,
Muito mais que um discurso bonito,
Um canto, dor, aflito.

O que me contam suas estrias?
Marcas da vida, que não é fria.

Então,
De que me vale um violão,
Se não tenho cordas?

Pra que eu quero
Uma vaca suculenta e boa
Se ela não se doa?

O que difere: carne a mais, carne a menos?
Nesse açougue cruel, não amamos,
Sobrevivemos.

A quitanda da avenida ao amarelo manga não se limita.
Temos pepinos, abacaxis, maçãs e sutiãs
E bananas, de todas as variedades.

Mesmo aquela goiaba com bicho
Sacia por completo meu corpo.
Que tem fome,
De bicho.

Meu pinto murcho tem mais prazer pra contar
Do que a máquina humana pornô de dar e trepar

Quando as luzes se apagam, e a passarela se desfaz,
Sobramos nós, fracos, porém intensos,
E inteiros, quiçá.

Namorando as cicatrizes e queimaduras,
Os vazios e as fissuras,

Encontrando na beleza das pessoas comuns,
A beleza real.

01/04/2007