Mera Existência Média

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Wednesday, June 10, 2009

Mercúrio-cromo

Porque tantos machucados nessa ânsia de crescer?
Bicicleta e skate viram armas de poder

Num reverso do palhaço
Implodido em alma estou
Um pedaço do estilhaço
Tua confiança cortou

A minha se vai e vem
Irresponsavelmente como quem
Tira rachas entre namorados
Ta tirando o ser amado
Ta tentando estar ao lado
De alguém que lhe faz tão bem.

Este ser carinhoso
De distintas sobrancelhas
Eu, moleque teimoso
Faço cócegas nas telhas

Da casa que erguestes para ser tua escola.
Da pedra que escalastes para tua vitória.
Do cimo de onde avistas o horizonte
Do etéreo e belo amanhã em cima dos montes

Quem sou diante da imensidão?
Quem sou pra ti diante do infinito mistério?
Talvez um caminhante companheiro, inda que errante.
Inda que perdido retirante
Inda que ousado a ser bacante

Sou aprendiz de guerrilheiro
E as balas perdidas atingem judeus e palestinos,
Velhos, adultos e meninos.

Mercúrio, como?
Se só o tempo há de cicatrizar
Mercúrio-cromo
Tóxico como não se curar

Água corrente, sim
O pus expulso na cachoeira
Há chance, sim
Se o tempo for lavado na torneira
Se a troca for conquista verdadeira
Se o universo quiser que a vez derradeira
Faça-se luz, amor e partilha parelheira.

Falcão
São Paulo, há tempos atrás
"Cambia, todo cambia"

Tuesday, March 03, 2009

Ascensorismo


I

A cabeça pesa
De pesos e contrapesos sobe e desce o elevador

Elevo-me no céu do nono andar
Mas a gravidade chama minhas entranhas
Além do teto quero levitar
Minha tripa dá um nó e se emaranha

Vou compartilhar dos vermes os demônios
Na caganeira minha vou morar
Assumir as dores e desejos inidôneos
Toda bioquímica vomitar


II

Lavar-me sem contaminação pública
É impossível
Meus dejetos, se libertos, vão fugir
Seu fedor será tão forte, um rio tamanho
Que apodrecida a Pólis vai dormir

Pra talvez amanhecer num novo esterco
Enxerto de existência do porvir

Talvez criar as bases de uma escola
Que trará por seu projeto o ruir


III

Tesouros do planeta. Atol de sapos
Assoreados plantam saravás
Seres do amanhã recolhem cacos
Em bricolagem nascem baobás

Parasitários ciclos caraíbas
Supositórios vícios paraguaios

Infinitos versos sem chegada
A Sacra morte hoje não virá
---
em sampa, pompéia, 03 de março de 2009

Sunday, September 07, 2008

Quinze minutos na Celso Garcia

Roda nego, pula a corda
Deixa a corda te pular
Olha o carro, sai da rua
Vem logo pra favela

Passa a mão a nuca, velho
Deixa a noite carinhar
A calçada é fria, é suja.
Bem-vindo a minha casa
Gira a mente, gira o sonho
Essa pedra ta foda.
Passa logo, passa nunca
Passarinho do luar

Pára de me ver
Como um ser
Fadado a sofrer
De tentar compreender

Quanto à minha opção
Quanto é minha opção

Vende a alma à passarela
De onde o rio vai se avistar
Joga o barco flutuando
Pela espuma até o mar

A canção ciclando a idéia
O próprio rabo a devorar

O respiro te serena
O devir de outra cena
Te leva

Aonde?

Agosto de 2008

Sufi in the city

Amigos ide, pescai
Que as dores não, não doem mais

Amigos ide, pescai
Que as dores não, não doem mais

Ide ouvir Tamanduateí
Ide ver as gaivotas

Então cantar o que há de vivo em si
Então dançar a Ciranda de Gaia

Desfila, desliza, voa baixo,
Baixo à vista

Entoa, respira
O ar da noite, a paz, a brisa

Deixe malabarizar
Frente à avenida

Vem mistério iluminar
Trás das Avenidas

O morcego enxergou
O que há sob o véu de asfalto
E o anjo já plantou
Flores sobre o manto cinza
Flores sobre o manto cinza
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Estamos aqui Sobre o Rio Tamanduateí
Vide as almas passadas
Vide as terras reviradas
Protejei-vos do vento
Clamais os índios dizimados
Senti-vos no centro da civilização

Mantendo as costas escoradas no progresso
E, por isso, daqui elas sairão sujas, maculadas

Não há completude
Onde só há concreto

Setembro de 2008

Tuesday, April 29, 2008

Da Espacialização do Amor

Sinto um misto de fome, sono e dor
Vou tentar rascunhar minha emoção
Numa poesia Express.
Riscada nos trilhos do metrô.
Quero curtir minha solidão.

Quero entender toda essa gente bonita.
Que anda apressada e alegre
Pelas estações da Paulista.

-------------------

São sempre muitos desejos.
O principal é me descobrir.
Porque me sinto mais à vontade com a galera em Itaquera
Do que no cume do Cult?

Porque a vida idealizada não está lá?
Porque tamanha idealização?
As dores que sinto são dores da alma.

Quanta dor há de haver periferia?
Lá é a vida e não aqui.

Porque sinto como se tudo isso
Fosse uma farsa mal representada?

Gostaria de vê-los nus e frágeis
Ou ser como eles?

Não tão pouco quanto alguns
Não igual ao demais

Ser topofílico ou topofóbico
Nesses terrenos desiguais

Pertencer, estar,
Geograficamente sentir-me neste lugar.

Janeiro de 2008

Dos meus demônios

Poder, prazer
Maneiras de brincar com você
Maneiras de expressar que eu te amo
Maneiras de te contar que eu me engano
Maneiras de expressar minha maldade
De maneira que eu choro tanto, na realidade.

Por saber ser assim tão frágil e tênue
A persona, perversa e amorosa que sou.

E o que dizer da amizade?
Sentimento-relação tão confuso que expresso
E o que dizer da novidade?
Desembargo da rotina conservada que professo

Peço que me deixe olhar nos olhos e pedir perdão
Confesso que sinto culpa pelo sentimento que causei
Em vão?

No momento só queria rir
Noutro dia, assustado, ainda sentia-me empolgado
No entanto, resta o choro,
Se confronto o que fiz

No entanto, o namoro
Se confunde com anis

A alegria fugidia de outrora já passou
Sem demora, a história, o tapete retirou

E em queda, aventura, arriscando me atirei

Pra chocar e arder em atrito
No cimento, vento de São Bento
Pra criar esse conflito
E depois me retirar

Pra conter então, um grito
De resposta, de penar.

E encontrar-me agora na espera
Revirado, ansioso,
Preocupado, nebuloso,
Mas ainda controlado

E separado
Pela catraca do metrô.

Fevereiro de 2008.

Se não há bolo, como haicais (e não vomite)

Meu presente de aniversário do ano passado (2007). Sensível lembrança do amigo Jeferson.

Haicai'dade - À idade, que constrói.

Hoje, um mais branco fio te

alinhava espessas nuvens

nos finos tornozelos de menino.

Haicai'mo - Ao imo, que se dilata.

Do olor de chão e água

Irrompe toda luz

das pantomimas e saraus.

JCR - paridos ou abortados especialmente para a data, a este amigo que data, 27/05/2007 – 17:55.

Sunday, January 06, 2008

Subtexto

Somos ambos culpados e ambos inocentes
Eu não falo tudo o que sinto
E não sinto tudo o que penso
Tampouco você
Essa dor não é só minha, por isso, vou dividi-la,
E te dizer

Que hoje eu não tenho condições de ser teu amigo,
Não tenho condições de ser seu cúmplice, não tenho condições de ser nada seu.
E, por amor próprio,
Nem quero.

Você não entende nada de paixão,
Mas vai ter que entender
Que eu não quero ouvir sua voz,
Que eu não quero ter notícias suas,
Que eu não quero lembrar de você
Que eu rasguei sua foto
Que eu só quero acabar de chorar o choro que agora estou chorando.
E esquecer.

Pra bater asas e voar
Pra outros lugares onde eu possa ser amado
E onde esse meu coração biscateiro possa criar raízes
Pois você sabe que eu nunca amei somente você
Mas te amei e te amo demais
E é exatamente isso que eu preciso superar

Pra isso, a distância é o melhor remédio, e a raiva, o melhor antídoto contra o veneno da paixão.

Não sei se você já percebeu, mas eu não sou tão nobre ou tão centrado,
Sou humano e sou complexo
E essa humanidade é que faz beber da droga maldita e bendita que é a paixão.
Droga da qual quero continuar bebendo e soluçando, mas, vivendo.

Afinal, como querias que eu não me sentisse inseguro?
Não sei se é estúpido ou excesso de zelo adiar o sofrimento, pros dois.

Não vou seguir meu ciclo em paz,
Não tão cedo.
Nem tudo é ciclo.
A história também se constrói de rupturas
E a de hoje é uma delas.

Saí
E não volto breve.
Quando voltar, não sei como será,
Mas voltarei fortalecido e espero que não te amando mais.


PS: Poesia antiga... que resgatei do baú digital.

Tuesday, December 25, 2007

Natal nos Trópicos Interiores

O céu se derrama acima de nós,
Banhado em azul marinho
A Lua escandalosa ilumina a
Mística de nossos singelos encontros

De onde soerguem sentidos de ser
Prazer de estar,
Beleza pra ver,
Ternura a trocar.

Queria cantar cada belo dia e bela noite
Cantar o bucolismo destas Terras d´Oeste

Cantar esse interior idealizado
Por quem caiu no mundão,
Caiu no mundo cão.
Andou na contramão

E agora olha com visões de fora
Pra esse lugar que nos acolheu pra crescer

Terra bela, que aconchega mais de noite que de dia,
Que nos leva pelas praças numa laica romaria.

Acalente o filho homem,
Que criança foi aqui.

Permita embebedar-me
De memórias e porvir.

Onde serás tão somente a raiz,
De onde tiro minha história e identidade

Não serás, no entanto, vívido matiz,
Onde busco o trilho da maturidade.


Alexandre Falcão de Araújo

24 de Dezembro de 2007, 3 da manhã, Praça da Igreja, Dracena.

Bandeiras Semi-hasteadas

I

Dou-te meu corpo em armaduras,
Qual cruzado cavalgando cegamente,
Em busca da Terra Prometida que
Nunca encontrará.

Anseio em ver-te pelas fechaduras,
Qual moleque levado e irresponsável,
Quero ver teu íntimo e achar
Que não perceberás.

Mas, que pretensão, pensar que terei permissão!

II

Tu és um belo mistério,
Tampouco transparente sou, porém,

Não te invoco, paixões, desatinos,
Mas sim, sermos bichinhos, meninos
Do senso-comum além.

Que num conto de fadas,
No círculo não nos aprisionemos
E ao vício, não nos prostremos.

Que sina cantada,
Ser mártire ou
Não ser nada.

Poesia prevista
Ao ser escrita,
Já não é bem quista.

Possível, o mundo o é.
Acho e quero acreditar
Doído, no fundo, poé

Poesia fulgaz
Que nos faz significar.

Alexandre Falcão, 29 de abril de 2007.

Thursday, May 31, 2007

Raízes e asas

Saio da cidadela,
Mais outra vez despedida
Porém, sem choro, nem vela

Com muito amor pelos que ficam
E expectativas por quem e pelo que virá
São novos e belos e difíceis
Desafios a superar.

Dessa vez saio diferente,
Saio mais eu.
Íntegro e complexo,
Contraditório e conturbado.

Na nova versão 2007, com meu cabelo de mangá

Sentirei saudades do carro,
do sarro,Da proximidade.
Embora já com a consciência
De que aqui não é mais minha cidade.

Eu nem sou tão grande,
Ao menos tão espaçoso.
Mas minha pegada deixa marcas
Que incomodam.

Minha carência é tamanha,
Mas a alma me espanta
Pra longe dos queridos
Peregrinos seres meus

Tão meninos, deuses, eu.

Janeiro de 2007.

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Hoje estou limitado
Não só pela cidade
Mas pela matéria que não me abre espaço pra esse desabafo;

Edipo´s Empty

Quando me tiraram a chupeta
Tiraram um pouco de mim
Um pedaço da existência,
Uma fonte de prazer
Uma coisa a fazer
De mim eu me esquecer
Algo pra eu me apegar

Sem chupeta, lembro a morte
Sem bengala, temo a vida
Sem a mãe, temo a paz
Porque ela vem não como vazio
Ou pletinude
Em forma sublime
Mas como o cessar das outras vozes de fuga
E ouvir somente meus anseios,
Minhas angústias.

É difícil ouvir a essência de Deus em nosso interior
Mas acho que ele está aqui, está em tudo.
Dentro e fora
Inda que em sombras escondido
Pelos prédios podres da civilização

Sua razão, sua missão, sua existência,
É, desde sempre,
A melhor explicação para o sentido da vida.